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O presente artigo apresenta o projecto Raízes: as origens portuguesas das elites sefarditas norte-americanas (sécs. XVII-XVIII), desenvolvido pela Cátedra de Estudos Sefarditas Alberto Benveniste, e que se foca na pesquisa das origens e do percurso português das famílias sefarditas fundadoras as comunidades judaicas norte-americanas durante o período colonial. O principal veículo de comunicação do projecto é uma plataforma online de partilha de materiais e ferramentas de trabalho, cujo principal objectivo é impulsionar o desenvolvimento da investigação nessa área. Numa primeira parte, efectuamos um breve estado da arte sobre a génese e evolução das primeiras comunidades judaicas da América do Norte antes da Independência. Segue-se a apresentação dos primeiros resultados do projecto, fruto da investigação em torno da família Mendes Seixas e, em particular, do percurso que antecede a partida de um dos seus ramos para Inglaterra e do estabelecimento na América do Norte.

A problematização das teses que relacionam a popularidade de Espinosa entre os judeus alemães durante o processo de emancipação e o chamado “mito da supremacia sefardita” é o objectivo central do presente artigo. A admiração pela obra e vida do filósofo, enquanto expoentes de autenticidade e coerência, contrastam com os motivos que suportam o então crescente interesse dos judeus germânicos pela cultura sefardita, nomeadamente a sua capacidade de aculturação e assimilação. Essas posições contrárias coexistem e são produto de dois movimentos culturais igualmente antagónicos, o Iluminismo e o Romantismo. Enquanto o Iluminismo promoveu a igualdade de direitos e integração independentemente da religião professada, conduzindo à necessidade de aculturação, o Romantismo trouxe à tona a questão da autenticidade. Espinosa simboliza a conciliação da ideia do Judeu autêntico com a da diáspora sefardita enquanto movimento propiciador da livre profissão da fé e da descoberta do verdadeiro Eu.

O importante espólio de manuscritos da Biblioteca Ets Haim – Livraria Montezinos representa um indicador da vitalidade cultural da comunidade sefardita de Amesterdão. Apresentamos neste breve texto os princípios que estruturam um projecto de catalogação dos manuscritos em português e castelhano desta biblioteca, realizado entre Abril de 2014 e Outubro de 2015. O objectivo principal é mostrar a metodologia de catalogação seguida, destinada a criar uma tipologia de manuscritos baseada nas características dos textos em castelhano e português. Com base nesta primeira abordagem são rertiradas algumas pistas de trabalho para investigações mais aprofundadas deste amplo e significativo corpus documental.

Enquadra-se este estudo no impacto cultural e económico do percurso de sefarditas portugueses na diáspora. Através da análise de testemunhos de cristãos-novos que exerceram a profissão médica no Brasil colonial, num tempo tardio de repressão inquisitorial – posterior a 1772 -, percebem-se os interesses económicos subjacentes às delações formuladas. Aspectos que sobressaem do processo inquisitorial de José Vieira Couto, médico e mineralogista, cuja acusação de herege assentaria noutras causas.

As Notícias Recônditas, publicadas em inglês em 1708 em Londres, em português e em espanhol em 1722 por David Nieto na mesma cidade, e novamente em português, em 1821, atribuídas ao Padre António Vieira, em Lisboa, pela Imprensa Nacional, foram consideradas por José Lúcio de Azevedo, Hernâni Cidade e António Sérgio obra de um notário da Inquisição, Pedro Lupina Freire, tendo-se encontrado no Arquivo Nacional da Torre do Tombo um exemplar desta descrição entre outras suas cartas. Pelo contrário, a leitura de um manuscrito presente na Biblioteca Casanatense de Toma permite, devido à pouca consideração de Padre António Vieira por Pedro Lupina Freire, desmentir a atribuição a este último, dando a possibilidade de abrir pistas para uma nova personagem dentro deste projecto de difusão das atitudes do Tribunal da Inquisição em Portugal, levado a cabo pelo Padre António Vieira: Gaspar Abreu de Freitas.

A defesa propiciada pela Inquisição portuguesa aos acusados de criptojudaísmo, em geral, não tinha o resultado esperado por eles. Suas causas arrastavam-se por mais tempo, aguardando as investigações subsequentes a serem realizadas nas mais longínquas vilas e lugares de Portugal ou do Brasil. Ademais, legitimava os procedimentos de condução dos processos, fazendo com que os argumentos e acusações apresentados pelo Santo Ofício nunca pudessem ser plenamente refutados pelos réus. Examinando comparativamente Artigos de Defesa de prisioneiros cristãos-novos residentes na Bahia, durante a primeira metade do século XVIII, com as sentenças a eles imputadas pelo Tribunal de Lisboa observamos alguma discrepância entre sentenças para casos similares ou mesmo ao normatizado pelo Regimento da Inquisição de 1640 (vigente no período estudado). Vom este material é possível pressupor certo nível de autonomia dos inquisidores lisboetas na deliberação das punições e reflectir acerca da interferência da postura contestatória de alguns prisioneiros cristãos-novos ao julgamento da Inquisição.